segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021


ROTEIRO DE ESTUDOS ESCOLA ESTADUAL DIÓGENES RIBEIRO DE LIMA

DISCIPLINA:  BIOLOGIA

TURMA:  3ª Série

PROFESSOR: VALDEIR BITENCOURT

CELULAR:15 996025515

CONTEÚDO: Desafio da Classificação Biológica;

Sistema de classificação, segundo Lineu;

Pesquisa de Campo para dia 04/03

 

TDIC:

(X) GRUPOS DE WHATSAPP

(X) MATERIAIS  IMPRESSOS

(X) BLOG

(  ) OUTROS

Período: 25/02

 

ATIVIDADES

CONTEÚDO:

Desafio da Classificação Biológica – pag 78

Questão disparadora: O seres vivos são todos iguais?

Procedimento:

Realizar uma pesquisa sobre os pioneiros da genética – citando nomes como: Hipócrates, Aristóteles, Gregor Mendel, Charles Darwin, Lamarck, ... Entregar dia 03/03 em forma de Slides.

 

 

CONTEÚDO:

Sistema de classificação, segundo Lineu

Procedimento:

Realizar uma pesquisa de campo para cumprir com o desafio de registrar a biodiversidade local. Caderno do Aluno – 3ª série do Ensino Médio - Você precisará apenas de uma área verde para a visitação e equipamento para registro de imagens. Este estudo pode ser realizado em Unidades de Conservação, parques, praças, na área da escola ou entorno e/ou no caminho percorrido até chegar à unidade escolar.

Procedimentos: (registrar tudo no caderno pessoal) a. Organizem-se, marcando horário, dia e qual(ais) local(ais) irão visitar para realizar a ativida- de “Identificando a biodiversidade local”. b. No local escolhido, façam registros fotográficos e/ou desenhos dos seres vivos observados. c. Ordenem os dados coletados, se possível com a imagem correspondente, conforme modelo apresentado a seguir: Seres vivos observados (Inserir imagem dos seres vivos observados) Nomes populares dos seres vivos observados 1. (...) Quais critérios foram utilizados para selecionar os seres vivos no ambiente? 1. Quantos são animais? Identifique-os. 2. É possível separar esses animais em grupos? Se sim, qual(is) critério(s) seriam utilizados? 3. Represente os animais agrupados num sulfite ou em seu caderno. 4. Quantos são plantas? Identifique-as. 5. É possível separar essas plantas em grupos? Se sim, qual(is) critério(s) seriam utilizados? 6. Demonstre as plantas separadas nos grupos, representando-as em seu caderno.

 

Leitura e análise do texto:

Classificação biológica: desafios na história da biologia  Felipe A. P. L. Costa1 Marinês Eiterer2 Lucia Maria Paleari3    4.1

 INTRODUÇÃO

 Quem já não organizou uma coleção de selos, bonecas, bolinhas de gude, figu-rinhas, conchas, rochas ou folhas secas? Sabemos desde crianças que uma coleção é bem mais  do que um amontoado aleatório de  objetos. Trata-se de um arranjo bem elaborado que cada colecionador faz e que revela a maneira como ele enten-de  ou  valoriza as  relações, sejam  elas  reais ou imaginárias,  entre os  elementos que  compõem  a  coleção. Selos  podem ser  organizados por  países, motivos  es-tampados ou datas; bolinhas de gude selecionadas por tamanho, cor ou pelo tipo de material de que são constituídas; conchas podem ser compostas ou simples e com desenhos  indicando padrões característicos; já  as rochas podem ser dividi-das em duras ou friáveis, cristalinas ou não; e assim por diante.   O que serve de base para um colecionador, ou qualquer pessoa que vá realizar esse trabalho, é o que denominamos de critério. Assim, dependendo dos critérios adotados, um mesmo conjunto de objetos poderá ser arranjado de maneiras dife-rentes. Por exemplo, podemos reunir em um mesmo grupo um  conjunto de pe-dras e um conjunto de plantas, se o critério for ‘elementos da natureza’. Todavia, se o critério for ‘seres vivos’, teremos de manter pedras e plantas em grupos dis-tintos. Portanto, reunimos em um mesmo grupo os elementos que possuem algo em comum, mantendo-os separados daqueles que são diferentes, a depender do critério de classificação adotado.   O sistema de  classificação também  pode ser  hierárquico. Dizemos  que uma classificação é hierárquica quando ela é formada por uma sucessão de níveis dife-rentes, havendo entre eles alguma relação de pertinência – isto é, grupos contêm subgrupos que contêm subgrupos ainda menores e assim por diante. Os critérios que estabelecem essas relações entre grupos  e subgrupos podem ser estabeleci-dos pela lógica do classificador. Por exemplo, alguém poderia decidir organizar as edições diárias de um jornal em blocos mensais e, em seguida, guardar esses blocos em armários de aço numerados em ordem anual crescente.   Esse tipo de classificação é  de grande utilidade  prática. Basta ver, por exem-plo, o que ocorre quando visitamos uma biblioteca à procura de um livro: o vo-lume desejado é obtido em pouco tempo. Em casos assim, é fundamental a expe-riência do classificador para  definir as  características e estabelecer os limites  de cada grupo, bem como a posição de cada um no espaço físico ocupado na biblio-teca. O mesmo vale para bibliotecas e sítios eletrônicos virtuais. Ao classificarmos                                                     1 Biólogo; meiterer@hotmail.com. 2 Bióloga; marineseiterer@hotmail.com. 3 UNESP – Departamento de Educação IB, CP 510, 18618-970 Botucatu SP lpaleari@ibb.unesp.br.

os conteúdos, e definirmos os descritores que levarão os visitantes até eles, pode-remos tornar a busca ágil e eficiente ou penosa, cheia de entradas inglórias.   De modo  geral, esses sistemas de  classificações dão  conta dos  arranjos, defi-nindo  os  grupos,  subgrupos  e  suas  respectivas características,  e possibilitam a rápida identificação de cada componente.    4.2 DA EXPERIÊNCIA PRÁTICA À CIÊNCIA DA CLASSIFICAÇÃO   Nosso cérebro trabalha organizando as sensações que temos do mundo; nesse processo, são utilizados critérios para estabelecer as associações. Ao  final, as in-formações são mantidas na memória, geralmente implícita, que pode ser recupe-rada sem  que para  isso  tenhamos de  agir  conscientemente. Aquilo  que  vemos, ouvimos ou sentimos, de algum modo adquire certa ordem, que fará sentido pa-ra cada organizador e  para todos aqueles que compartilhem da mesma lógica e adotem os mesmos critérios de classificação.   Essa atividade, que muitas vezes passa despercebida (memória implícita), tem um papel importante tanto para a nossa sobrevivência como para o entendimen-to que buscamos ter hoje da natureza.   A quantidade de conhecimento empírico que os seres humanos acumulam ao longo  da  vida pode ser  impressionante. Conversar  com um  adulto experiente, por exemplo, daqueles que viveram a infância toda de árvore em árvore, nadan-do e  pescando, é descortinar um  mundo de  aventuras e conhecimentos, muitas vezes  estranhos aos  moradores  das  cidades.  Um  sujeito  criado  no campo  não costuma ter dificuldade para diferenciar cores e cantos dos pássaros ou os odores das flores, nem para falar sobre a idade das árvores, a época em que elas flores-cem ou  sobre o  modo certo  de capturar esse  ou aquele  peixe comestível.  Entre duas ervas muito parecidas, ele não erra na hora de escolher de qual delas coleta-rá folhas, flores ou raízes para preparar uma infusão ou temperar o almoço. Sabe os segredos das poções vegetais que curam e são também exímios conhecedores de trilhas e animais.   Muitos pesquisadores que periodicamente vão a campo para estudos em eco-logia, botânica,  zoologia ou mesmo farmacologia, já se  deram conta disso. Para encontrar os materiais que procuram para os inventários de flora e fauna e tam-bém  para reunir conhecimentos  valiosos que lhes  auxiliem  nas  investigações e compreensão de seus achados científicos, eles não hesitam em contratar mateiros e travar longas conversas com curandeiros e moradores das pequenas vilas.   O que esses peritos de campo são capazes de fazer é detectar as características peculiares de  cada planta e animal,  isto é, são  capazes de  identificar, reconhe-cendo um  exemplar de interesse particular, mesmo quando está  em meio a  um conjunto  de  outros elementos extremamente  parecidos.  Esse tipo de atividade, que    foi determinante para a  sobrevivência dos  nossos  ancestrais – permitia-lhes, por exemplo, evitar plantas tóxicas ou ser atacado por animais peçonhentos –, é  hoje de suma importância em estudos científicos que  investigam diferentes aspectos e propriedades de seres vivos e materiais biológicos de modo geral.    4.3 CLASSIFICANDO OBJETOS VIVOS   O que foi dito até aqui vale tanto para a classificação ordenada de objetos vi-vos  como de  não-vivos. Nesse  ponto, porém, cabe  chamar a  atenção para uma particularidade dos modernos sistemas de classificação de seres vivos: ao contrá-

rio do que se passa com selos, bolas de gude ou outros objetos não-vivos, a classi-ficação dos  seres vivos deve refletir a história e  as relações de parentesco exis-tentes  entre  as diferentes  linhagens.  Os selos  no  álbum  de um  filatelista  ou os livros nas estantes de uma biblioteca podem ser arranjados de vários modos lógi-cos e eficientes; nenhum deles, porém, é o modo certo ou resulta em um arranjo sem equívocos – é discutível, por exemplo, se um livro de geoquímica deve ficar na seção de geologia da biblioteca ou na seção de química. Esse tipo de problema não  ocorre com a  classificação dos  seres vivos,  pois há  entre eles  uma relação unidirecional de  pertinência,  movida  pela sucessão  das  gerações,  de  tal  modo que as espécies mais recentes descendem de espécies mais antigas, e não o con-trário.   Você é filho de seus pais, que são filhos de seus avós e assim por diante. Essa sucessão de  gerações não pode ser invertida  – você jamais  será o  pai ou  a mãe dos seus pais ou o avô ou a avó dos seus avós. Tendo isso como pano de fundo, o grande desafio que os taxonomistas – especialistas que lidam com os sistemas de classificação biológica – têm pela frente é conseguir reconstituir a história da vida (leia-se, das ramificações das linhagens) do modo mais consistente possível. É um desafio e tanto. Primeiro, porque o número de espécies envolvidas é muito gran-de; e, segundo, porque as pistas que indicam o grau de parentesco entre diferen-tes grupos de organismos nem sempre são óbvias.    4.4 DESCREVENDO A BIODIVERSIDADE   Foi o naturalista sueco Carl von Linné (1707-1778) – ou simplesmente Lineu – quem fixou as bases da  nomenclatura biológica moderna, segundo  a qual  cada espécie deve ser referida por um binômio latino exclusivo.1 Desde então, suces-sivas gerações de biólogos e naturalistas já descreveram e nomearam formalmen-te cerca de 1,7  milhão de  espécies. Embora esse  número por  si só  seja bastante impressionante, ele não  representa mais do  que uma parcela da biodiversidade da Terra, que  deve abrigar um total  estimado entre  5 milhões  e 50  milhões  de espécies, incluindo microrganismos (bactérias  e protoctistas), animais,  fungos e plantas.   Na verdade, a busca por um sistema de classificação dos seres vivos começou bem antes de Lineu. Aristóteles (384-322 a.C.), por exemplo, propôs um sistema de acordo com o qual os  animais eram  divididos em terrestres,  aquáticos e  aé-reos, enquanto  as plantas  eram divididas em ervas, arbustos e árvores. Entre o sistema de Aristóteles e o de Lineu, muitas outras idéias e sistemas de classifica-ção apareceram, muitos dos quais têm hoje valor meramente histórico.   O grande  mérito do  trabalho de  Lineu pouco  ou nada  teve a  ver com  o seu sistema de classificação. Seu trabalho se converteu em um marco principalmente por  propor soluções consistentes  a problemas  tidos até então como  insolúveis. Uma dessas soluções foi estabelecer como padrão a nomenclatura binomial – até então as espécies eram descritas por  expressões polinomiais. Outra foi adotar o latim como língua padrão universal para os textos onde as espécies seriam des-critas –  os autores costumavam usar seu próprio idioma,  o que só  dificultava a comunicação e o entendimento entre autores de línguas diferentes.                                                     1O nome  científico  do  cão doméstico, por  exemplo,  é  Canis  familiaris, sendo Canis  o  nome do  gênero e a expressão Canis familiaris o nome da espécie. A palavra familiaris sozinha é chamada de epíteto específico.

Figura 1. Modelo simplificado para a filogenia dos grandes subgrupos de primatas viven-tes: estrepsirrinos (A+B) e haplorrinos (C-G). A origem dos társios (C) é controversa, em-bora as evidências mais fortes indiquem que eles sejam haplorrinos. Os haplorrinos que não são társios são referidos como antropoides (D-G) e estão subdivididos em platirrinos (G) e  catarrinos  (D-F). Estes últimos  incluem  os  hominídeos (F). O  último  ancestral co-mum a todos os subgrupos mostrados teria vivido há quase 70 milhões de anos. Os valo-res entre  parêntesis indicam  o  número de  espécies viventes conhecidas. Várias fontes, mas principalmente HICKMAN et al. (2004) e WILSON & REEDER (2005). A: lórises e outros (28)  B: lêmures e outros (60)  C: társios e outros (7) D:  babuínos,  colobos  e  outros macacos do Velho Mundo (132) E: gibões (14) F:  grandes  símios  e seres humanos (7) Milhões de anos atrás 60 40 Hoje 20 50 30 10 70 G:  monos, micos  e  outros  ma-cacos do Novo Mundo (128)   Com relação  propriamente à  classificação dos  seres vivos, cabe ressaltar  que Lineu adotou um sistema hierárquico. De acordo com tal hierarquia, as espécies devem ser agrupadas em  grupos cada vez mais  amplos e inclusivos, a  começar pelo nível mais baixo e exclusivo (espécie) e culminando com o mais alto e inclu-sivo (reino). Os sistemas atuais também são hierárquicos, adotando como princi-pais níveis de classificação (em ordem descendente): o reino, o filo (ou divisão), a classe,  a  ordem,  a  família, o  gênero e  a espécie.  Existem  ainda  diversos níveis intermediários  (subclasse,  infraclasse,  subfamília  etc.),  usados  para  acomodar todas as diferentes linhagens, principalmente no caso de filos com muitas espé-cies.    4.5 CONSTRUINDO FILOGENIAS   Cada indivíduo recém-nascido é o elo mais novo em uma cadeia ininterrupta de gerações que  retrocede até  a aurora  dos tempos.  Ao longo  dessa impressio-nante jornada, inúmeras  espécies surgiram, irradiaram-se em novas linhagens  e então desapareceram, naturalmente. A filogenia de uma linhagem é uma tentati-va de reconstituição de sua história evolutiva. Fazendo isso, os estudiosos podem obter um panorama geral das ‘relações de parentesco’ entre as diversas espécies que surgiram ao longo do tempo – a maioria das quais, na maioria dos casos, é bom que se diga, já foi extinta.                          

  Na prática, montar  filogenias é  um quebra-cabeça difícil e  meticuloso, tanto pelas dimensões do empreendimento como pela escassez de restos fósseis. Não é de estranhar, portanto, que a história evolutiva de tantas linhagens de seres vivos esteja repleta de ‘elos perdidos’, dando margem a interpretações divergentes.   Atualmente, a construção de filogenias – e os esquemas classificatórios resul-tantes – está ancorada na análise cladística e na obtenção de cladogramas e árvo-res filogenéticas. Em uma árvore filogenética, a posição relativa de cada grupo (espécie, gênero, família etc.) indica, em certa medida, o ‘parentesco’ ou a proxi-midade evolutiva  em relação aos grupos  próximos. Na  árvore filogenética que pode ser vista na Figura 1, por exemplo, gibões e grandes símios estão mais pró-ximos entre si do que com qualquer dos demais grupos mostrados.   A árvore filogenética anterior poderia sustentar o seguinte esquema de classi-ficação dos primatas:2  Primatas (formalmente, ordem [Primates])   Estrepsirrinos (subordem Strepsirrhini)     Lóris e outros     Lêmures e outros   Haplorrinos (subordem Haplorrhini)     Társios     Macacos e símios       Platirrinos         Monos, micos e outros macacos do Novo Mundo       Catarrinos         Colobos, babuínos e outros macacos do Velho Mundo         Símios           Gibões           Grandes símios e humanos     4.6 OS REINOS DA VIDA   No tempo de Aristóteles, os objetos do mundo natural eram classificados em três ‘reinos’: animal, vegetal ou mineral. Essa visão persistiu durante muitos sé-culos. O próprio Lineu manteve a tradição de classificar os seres vivos em apenas dois reinos: animal ou vegetal. Assim, o que não cabia em um reino, forçosamen-te teria de caber no outro.   A dicotomia animal-vegetal passou a ser questionada mais seriamente a partir da publicação da teoria da evolução por seleção natural, em meados do século 19. Foi quando os sistemas artificiais passaram a ser substituídos por sistemas mais naturais, que levassem em conta a história da vida e o grau de parentesco entre os vários grupos de seres vivos. Desde então, os sistemas artificiais, construídos com base em caracteres estabelecidos arbitrariamente pelo observador (como foi o caso do sistema criado por Lineu), foram sendo substituídos por sistemas natu-rais, que são os sistemas adotados hoje em dia.   Um sistema natural pioneiro foi proposto pelo naturalista alemão Ernest Ha-eckel (1834-1919). Em 1866, ele publicou um sistema segundo o qual os seres vi-vos eram divididos em três reinos: animal, vegetal e protista. Sua proposta teve o                                                     2Para mais detalhes, o leitor interessado deve consultar LEWIN (1999).

Bacteria 10 mil espécies Protoctista 60 mil espécies Animalia 1,2 milhão espécies Fungi 55 mil espécies Plantae 350 mil espécies Procariontes Eucariontes Figura  2. Modelo  bastante  simplificado  mostrando  as relações  filogenéticas exis-tentes  entre  os cinco  reinos de  seres  vivos, conforme a  definição adotada  neste capítulo (ver texto; para mais detalhes, ver CAVALIER-SMITH 2004). grande mérito de chamar a atenção para a situação algo problemática de muitos grupos de seres vivos, grupos esses que não podiam ser facilmente acomodados no sistema tradicional de dois reinos.   O primeiro sistema de classificação verdadeiramente moderno, no entanto, só apareceu em meados do século 20, fruto do trabalho do biólogo americano Her-bert F. Copeland (1902-1968). O sistema de Copeland, publicado em um livro que ele próprio custeou, dividia os seres vivos em quatro reinos: moneras (bactérias), plantas,  animais  e protistas.  As idéias  de  Copeland serviram como  importante ponto de partida para que, no fim da década de 1960, o biólogo americano Robert H.  Whittaker  (1920-1980) publicasse  um sistema  de  classificação que  divide os seres vivos em cinco reinos: moneras (bactérias), protistas, fungos, animais e ve-getais.                    Com algumas modificações, o sistema proposto por Whittaker é usado ainda hoje (e.g., MARGULIS & SCHWARTZ 2001). No que segue, fazemos uma breve apresentação de cada um desses cinco reinos: 3  a)  Império  ou  super-reino  Prokaryota: procariontes  (sem núcleo, ribossomos  e cromonema  circular  no  mesmo  compartimento);  desprovidos  de  citoesqueleto interno e endomembranas.  Reino 1. Bacteria (Monera): unicelulares, às vezes reunidos em colônias; autótro-fos (quimio ou  fotossintetizantes) ou heterótrofos; ao menos 10 mil espécies co-nhecidas, arranjadas hoje nos seguintes grupos: * Proteobacteria: bactérias gram-negativas quimio-heterotróficas; subgrupos dis-tintivos  de  proteobactérias são  designados por letras gregas; temos  assim as  α (alfa), β (beta), γ (gama), δ (delta), e ε (épsilon) proteobactérias.                                                     3Várias fontes, mas principalmente: HICKMAN et al. (2004), RAVEN et al. (2007), RUPPERT et al. (2005) e TORTORA et al. (2006); para um sistema de seis reinos, no qual Protoctista é subdividido em dois reinos, Chromista e Protozoa, ver CAVALIER-SMITH (2004).

* Bactérias gram-negativas não-proteobactérias: inclui bactérias fotossintetizantes características, tanto morfológica como fisiologicamente; estão aqui as cianobac-térias  (filo  Cyanobacteria),  as  bactérias  verdes  sulfurosas  (Chlorobi)  e  as  não-sulfurosas (Chloroflexi). * Filos variados: Chlamydiae, Spirochaetes, Bacteroidetes e Fusobacteria.  b) Império ou super-reino Eukaryota: eucariontes (núcleo presente, ribossomos e cromossomos  em  compartimentos  distintos);  células  providas  de  citoesqueleto interno e endomembranas.  Reino  2.  Protoctista  (Protista):  unicelulares, às  vezes reunidos em colônias, ou pluricelulares; autótrofos (fotossintetizantes) ou heterótrofos; cerca de 60 mil es-pécies,  arranjadas de  modo ainda precário em  uma variedade de filos.  Alguns desses filos  são provavelmente  monofiléticos e têm sido  reconhecidos por dife-rentes autores; outros, no entanto, são agrupamentos taxonômicos instáveis que ainda não foram devidamente caracterizados e estabelecidos. Eis um modo con-veniente, embora provisório, de mapear a diversidade do reino Protoctista: * Grupo  1. Protoctistas primitivamente fagotróficos e  sem plastídeos; inclui  boa parte dos antigos ‘protozoários’, arranjados em dois subgrupos e um total de 13 filos, a saber: subgrupos Sarcomastigota (filos Amoebozoa e Choanozoa) e Bicili-ata (filos  Cercozoa, Foraminifera, Radiozoa, Loukozoa, Percolozoa,  Euglenozoa, Metamonada, Myzozoa, Ciliophora, Apusozoa e Heliozoa). * Grupo  2. Protoctistas tipicamente  foto-autotróficos, com  cloroplastos (clorofila c), mas alguns são heterótrofos; inclui boa parte das antigas ‘algas’, arranjadas em dois subgrupos e um total de cinco filos, a saber: subgrupo Cryptista (filo Cryp-tista) e Chromobiota (filos Ochrophyta, Pseudofungi, Opalozoa e Haptophyta).  Reino 3. Animalia: pluricelulares; heterótrofos por ingestão; cerca de 1,2 milhão de espécies, arranjadas em 33 filos. Em linhas gerais, podemos resumir a classifi-cação geral do reino animal da seguinte maneira: * Grupo 1. Filo Porifera * Grupo 2. Filo Placozoa * Grupo 3. Eumetazoa: epitélio verdadeiro com células interconectadas; 31 filos. 3.1. Filo Cnidaria. Dois folhetos germinativos embrionários. 3.2.  Triploblástica.  Três  folhetos  germinativos  embrionários  (ectoderme,  meso-derme e endoderme); 30 filos. 3.2.1. Filo Ctenophora. Simetria radial (birradial). 3.2.2. Bilateria.  Simetria bilateral (ou  secundariamente radial); cefalização;  29 fi-los. a) Protostomia.  Blastóporo dá  origem  à boca;  espécies arranjadas em  dois sub-grupos e um total de  26 filos, a saber: Lophotrochozoa (16 filos,  incluindo Plat-yhelminthes, Mollusca e Annelida) e Ecdysozoa (10 filos, incluindo Nematoda e Arthropoda). b) Deuterostomia. Blastóporo dá origem ao ânus; três filos (Hemichordata, Echi-nodermata e Chordata). 

Reino 4. Fungi: pluricelulares ou,  às vezes,  unicelulares; células  reforçadas por parede celular de quitina ou  β-glicano; heterótrofos  por absorção;  ao menos  55 mil espécies conhecidas, arranjadas em quatro filos (ou divisões), a saber: 1. Filo Chytridiomycota: quase todos aquáticos; uni ou multicelulares, estes últi-mos predominantemente cenocíticos (isto é, formados por hifas cenocíticas); nos unicelulares, o corpo todo se transforma em estrutura reprodutiva; cerca de 800 espécies conhecidas. 2. Filo Zygomycota: muitos vivem no solo ou sobre restos em decomposição, al-guns formam associações mutualísticas obrigatórias com certas plantas (endomi-corrizas); são quase sempre multicelulares; reprodução principalmente assexua-da,  mas formam  esporos de resistência  (zigósporos) por  via sexuada,  estes po-dem permanecer durante  meses  dentro de  uma estrutura  de paredes espessas, chamada zigosporângio, desenvolvendo-se quando as circunstâncias forem favo-ráveis; pouco mais de mil espécies. 3. Filo Ascomycota: incluem muitas espécies familiares e economicamente impor-tantes, como bolores que estragam alimentos e  as leveduras; corpo filamentoso, com exceção  das leveduras, que  são unicelulares; diferentemente dos zigomice-tos, os ascomicetos produzem esporos assexuados externamente como conídios; a reprodução sexuada sempre envolve a formação de um asco, estrutura em forma de saco dentro da qual se formam os ascósporos; mais de 32 mil espécies. 4. Filo Basidiomycota: inclui diversas espécies conhecidas e importantes, como os cogumelos, orelhas-de-pau e as ferrugens; o micélio é sempre septado e os septos são  perfurados;  caracterizam-se  pela  produção  de  basidióporos,  formados  do lado de fora de uma estrutura chamada basídio; mais de 22 mil espécies.  Reino 5. Plantae: pluricelulares ou, às vezes, unicelulares; células reforçadas por parede celulósica; autótrofos (fotossintetizantes); cerca de 350 mil espécies, arran-jadas em 15 filos (ou divisões), a saber: * Grupo 1. Biliphyta: tilacóides únicos; amido no citosol; dois filos. 1.1. Filo Glaucocisphyta: unicelulares, raros e ainda pouco estudados; menos de 10 espécies conhecidas. 1.2. Filo Rhodophyta: 4-6 mil espécies de algas vermelhas, principalmente mari-nhas, maioria é multicelular * Grupo 2.  Viridaeplantae: ‘plantas verdes’; tilacóides empilhados; amido arma-zenado no estroma dos plastídeos; 13 filos, além de um grupo de algas obscuras e de posição ainda incerta. 2.1. Filo Chlorophyta: 17 mil espécies de algas verdes, maioria é aquática. 2.2. Embriófitas: plantas com embrião. 2.2.1 Atracheophyta (16 mil espécies): embriófitas sem traqueídes; cerca de 16 mil espécies, arranjadas em três filos (Hepatophyta, Anthocerophyta e Bryophyta). 2.2.2. Tracheophyta (300 mil espécies): embriófitas com traqueídes. a) Traqueófitas sem sementes; cerca de 13 mil espécies, arranjadas em quatro filos (Lycophyta, Sphenophyta, Psilotophyta e Pteridophyta). b) Traqueófitas com sementes; demais espécies, arranjadas em dois subgrupos e um total  de cinco  filos, a  saber: Gimnospermae (menos  de mil  espécies; quatro filos: Cycadophyta, Ginkgophyta, Coniferophyta e Gnetophyta) e Angiospermae (filo Anthophyta, incluindo 200  mil eudicotiledôneas e 90 mil de monocotiledô-neas).

Figura 3. Tamanho relativo dos cinco reinos, levando em conta o  número de espé-cies  conhecidas. Observe  que  quase 3/4  de  todas as  espécies conhecidas  perten-cem ao reino Animalia (ver texto para detalhes).   6.7 BIODIVERSIDADE ANINHADA   Em  todos  os  níveis  da  hierarquia  taxonômica, de reinos  a gêneros,    uma acentuada assimetria de tamanho. Isso porque a grande maioria das espécies está concentrada (‘aninhada’) em uns poucos grupos. Essa concentração ocorre já en-tre os cinco reinos: o reino Animalia é bem maior do que os outros quatro.   Esse mesmo padrão de  biodiversidade aninhada ocorre dentro dos reinos:  a grande maioria das espécies se concentra em uns poucos filos, nos quais a maio-ria  das  espécies se  concentra em  umas poucas classes.  O padrão se  repete nas ordens que formam as classes, nas famílias que formam as ordens e nos gêneros que formam as famílias – para não mencionar os níveis taxonômicos intermediá-rios, como subclasses, sub-ordens, subfamílias, tribos etc.                       Mais de uma hipótese já foi proposta para explicar esses padrões hierárquicos aninhados  e o  debate tem  prosperado nos  últimos anos, principalmente com  a aproximação e a influência mútua entre análises filogenéticas e  estudos ecológi-cos (e.g., PURVIS & HECTOR 2000). A universalização do fenômeno, no entanto, sugere que estamos diante de um processo análogo à taxa de extinção de paleo-espécies: ao longo  da história da vida  sobre  a Terra,  essa taxa  tem se mantido mais ou menos constante, sendo virtualmente independente da taxonomia – i.e., o ‘tempo de vida’ das paleoespécies foi aproximadamente o mesmo, não impor-tando muito se decidimos ilustrar a conversa com  exemplos de crustáceos, mo-luscos ou samambaias (ver VALENTINE 1985; ZIMMER 2003). No fim das con-tas, a impressão que fica desse padrão recorrente de distribuição desigual de es-pécies entre  categorias taxonômicas equivalentes  parece nos  dizer o seguinte: o processo  ordinário de  ramificação da  árvore da  vida – i.e., produção de  novas linhagens (espécies) – em geral  se esgota rapidamente; em alguns casos, no en-tanto, a ramificação chega no ‘lugar certo’, é bem-sucedida e o processo de espe-ciação torna-se explosivo.

  4.8 EVITANDO ERROS E MAL-ENTENDIDOS CONCEITUAIS   Ao contrário do  que  possa parecer,  palavras como ‘sistemática’  e  ‘classifica-ção’ não  são sinônimos e,  portanto, não  devem ser confundidas entre si. Eis  as palavras de RAW (2003) sobre o assunto:  Sistemática. Ciência que estuda a diversidade dos seres vivos e seus padrões de parentesco e evolução. Inclui a taxonomia e a filogenia (estudo das relações evo-lutivas entre os organismos). Taxonomia. Parte da sistemática que trata do estudo teórico de classificação e da criação das regras de nomenclatura. O significado literal do termo – ‘leis de ar-ranjo’ – vem das palavras gregas taxis (arranjo) e nomos (lei). Classificação. Agrupamento de organismos em categorias naturais em função de características compartilhadas. Na prática, o termo tem dois sentidos: a colocação dos  organismos  em  grupos  supostamente  naturais  e  a criação  do esquema  de classificação resultante desse ato. Identificação. Atividade  de  identificar organismos.  [Ver item  ‘Experimentando uma idéia’.] Ocupa a maior parte do tempo do taxonomista e o leigo imagina que é apenas isso que esse profissional faz. Cladística. Método  de análise das  relações evolutivas entre grupos de  organis-mos, através da identificação de seus caracteres primitivos e derivados. O conhe-cimento  desses  caracteres  permite  montar  cladogramas  (diagramas  de  clades, termo derivado da palavra grega klados, que significa ‘ramo’), os quais constitu-em hipóteses explícitas e testáveis dessas relações.    4.9 O TRICENTENÁRIO DE LINEU   O tricentenário de nascimento de Carl von Linné (Carl Linnaeus, Carolus Lin-naeus  ou simplesmente  Lineu), o criador  da nomenclatura binária  que  usamos para designar os seres vivos, foi comemorado em 2007.   Lineu nasceu em 23/5/1707, no vilarejo de Råshult, na Suécia. Quando tinha apenas dois anos,  a família mudou-se  para a vizinha Stenbrohult. Filho de Nils Ingemarsson (1674-1748) e Christina Brodersonia (1688-1733), ele era o primogê-nito de cinco irmãos  (dois homens e três mulheres). O pai foi pastor luterano e, de acordo com a tradição, precisou adotar um sobrenome latinizado. Como base para o seu novo nome, Nils escolheu a palavra em sueco que designava uma ár-vore, ‘linn’ (Tilia odorata), encontrada na fazenda de seu pai. Tornou-se então Nils Ingemarsson Linnaeus. Em 1757, em reconhecimento pelo seu trabalho, Carl ga-nharia  um título  de  nobreza  das  mãos  do  rei  da  Suécia, Adolf  Fredrik  (1710-1771), adotando a partir de então o nome Carl von Linné.   Estimulado pelo próprio pai, Lineu manifestou interesse pelas ciências natu-rais ainda  na infância.  Foi estudar  na cidade  de  Växjö, pois,  a exemplo  do pai, deveria seguir a carreira de clérigo. Ele, porém, não se adaptou à escola e come-çou a negligenciar os estudos. Ainda assim, no entanto, conseguia se sair bem em ciências naturais, a ponto do seu professor, Johan Stensson Rothman (1684-1763), persuadi-lo  a  estudar medicina,  o  que  desagradou  à  mãe.  Foi Rothman  quem mostrou ao jovem Lineu o sistema de classificação de Joseph Pitton de Tournefort (1656-1708)  e  as  opiniões  de  Sebastian  Vaillant  (1669-1722)  sobre  a  estrutura  e função  das  flores. Ele prontamente  aceitou  a  noção de  que as plantas  também eram seres sexuados, passando a prestar atenção aos detalhes da estrutura floral.

Lineu começou seus estudos de medicina na Universidade de Lund, mas foi con-cluir o curso na Universidade de Uppsala. Enquanto estudava, teve de trabalhar para  se  sustentar.  Em  1729,  com  apenas  vinte  e  dois  anos,  escreveu  Praeludia Sponsaliorum Plantarum. O livro, ainda que cheio de metáforas, chocou a opinião pública com suas idéias sobre a vida sexual das plantas.   Poucos anos depois, Lineu tomou uma importante decisão: foi para a Holan-da, onde ficou durante três anos (1735-1738). Nesse período, conviveu com o re-nomado médico e botânico Herman Boerhaave (1668-1738). Boerhaave o encora-jou a publicar os manuscritos que trouxera da Suécia, entre os quais Systema Na-turae (esboço geral de suas idéias sobre classificação dos seres vivos, cuja primei-ra edição tinha apenas 10 páginas), Fundamenta Botanica e Genera Plantarum. Em 1735, ainda na Holanda, obteve o título de doutor pela Universidade de Har-derwijk, com  uma tese  sobre malária. Após os  três anos  na Holanda, esteve na Inglaterra e na França, onde conviveu com os irmãos Jussieu. De volta à Suécia, chegou a se estabelecer como médico em Estocolmo. Em 1741, foi então nomeado professor da cadeira de medicina da Universidade de Uppsala.   Lineu era um  professor muito popular  entre  os alunos  da universidade. Ao que parece, sua popularidade era fruto do método de ensinar que adotara e tam-bém do seu  entusiasmo. Atraiu um grande  número de  estudantes  estrangeiros para perto de si, criando condições para que muitos deles participassem de expe-dições, algo muito importante na época. Ele mesmo pouco viajou, mas seus auxi-liares de campo – ou ‘apóstolos’, como gostava de dizer – percorreram os quatro cantos do mundo atrás de espécimes novos a serem descritos e nomeados.   Teve ao longo da vida 17 auxiliares de campo, alguns dos quais morreram em expedição de trabalho. De todos eles, apenas Daniel Solander esteve no Brasil, em 1768. Eis  a lista completa: Adam Afzelius  (1750-1837), Anders  Sparrman (1748-1820), Andreas Berlin (1746-1773, morto em expedição), Anton Rolandsson Mar-tin (1729-1785),  Carl Fredrik Adler (1720-1761, morto em expedição), Carl  Peter Thunberg (1743-1828), Christopher Tärnström (1711-1746, morto  em expedição), Daniel  Rolander  (1725-1793),  Daniel  Solander  (1733-1782),  Fredrik  Hasselquist (1722-1752, morto em expedição), Göran Rothman (1739-1778), Johan Peter Falck (1732-1774, morto em expedição), Olof Torén (1718-1753), Pehr Kalm (1716-1779), Pehr Löfling  (1729-1756, morto em expedição), Pehr  Osbeck (1723-1805) e Peter Forsskål, (1732-1763, morto em expedição). Como um  modo de homenagear  al-guns de seus auxiliares, Lineu usou o nome deles para batizar gêneros novos de plantas (e.g., Kalmia, Torenia, Osbeckia).   Antes de Lineu propor o sistema binário, as plantas eram designadas por sen-tenças  longas  (polinomiais),  contendo uma  descrição sumária  da  planta.  Além disso,  ainda  não  havia  uma  língua  botânica  universal,  o  que  gerava  inúmeras confusões e mal-entendidos. Com base no conceito de espécie de John Ray (1623-1705), ele desenvolveu  um sistema de nomenclatura a partir de espécies indivi-duais; separou o nome da planta de sua descrição; estabeleceu uma nomenclatu-ra binomial e, por fim, adotou o latim como língua botânica universal. Ao longo da  vida,  nomeou e  descreveu cerca  de  10 mil espécies  vegetais –  desde então, sucessivas gerações de botânicos nomearam e descreveram formalmente mais de 300 mil espécies.   Lineu foi casado  com Sara Elisabeth [‘Lisa’] Morea  (1716-1806); tiveram  sete filhos, cinco dos quais atingiram a idade adulta (um homem e quatro mulheres).

Carl von Linné Jr. (1741-1783) seguiu a carreira do pai, mas sem o mesmo entusi-asmo.  Lineu  morreu em  10/1/1778, aos  70 anos, e  seu corpo foi  enterrado na catedral de Uppsala. Após sua morte, Carl Jr. assumiu a cadeira de professor u-niversitário do pai, mas morreu precocemente, aos 42 anos. Após a morte de Carl Jr., Sara Lisa vendeu as coleções e os livros de seu marido para o botânico inglês James Edward  Smith (1759-1828). Todo o material  está hoje  em Londres, na fa-mosa Linnean Society, fundada pelo próprio Smith, em 1788.    4.10 EXPERIMENTANDO UMA IDEIA    4.10.1 Um exercício genial de classificação   Imaginemos  um  conjunto  de  botões, dentre  os quais  temos  botões  grandes, pequenos, de metal, de plástico e de madeira, sem furos (botões de pressão), per-furados (com dois,  três ou quatro furos) e de diversas cores. Se  os dispusermos em ordem crescente de tamanho (diâmetro) e, em seguida, levarmos também em conta o número de furos, um arranjo com lacunas em determinados lugares será sido construído.   De acordo com os critérios utilizados – diâmetro e número de furos –, previ-mos que determinados tipos  de botões deveriam se  encaixar nesses  respectivos lugares. Todavia, quando procedemos à classificação, esses tipos ainda não havi-am sido encontrados para fazer parte da nossa coleção.   O que torna este exercício genial?   Em primeiro lugar, ele nos permite tratar de um aspecto fundamental de um sistema de classificação, que é a ‘definição dos critérios’; além disso, permite que façamos ‘previsões’ sobre a existência de certos tipos de botões, o que é uma das características fundamentais do empreendimento científico.   Com  esse  exercício,  simula-se  o que  fez  o  químico russo  Dimitri  Ivanovich Mendeleiev (1834-1907), quando  organizou pela primeira vez os  elementos quí-micos com base nas respectivas propriedades físico-químicas.   Até meados do século 19, com base em investigações empíricas, 63 elementos químicos eram já conhecidos, bem como a existência de alguns padrões intrigan-tes  entre  eles.  Algumas  tentativas  de  classificá-los  foram  feitas,  mas  coube  a Mendeleiev,  em  1869,  apresentar  um  primeiro  esboço satisfatório  daquela  que viria a ser conhecida mais tarde como Tabela Periódica dos Elementos Químicos.    Nessa tabela, Mendeleiev organizou os elementos de acordo com as suas pro-priedades físico-químicas (arranjos verticais) e com o número crescente de suas massas atômicas (arranjos horizontais), deixando espaços correspondentes para a colocação de elementos desconhecidos até então.   A proposta de  dispor os  elementos dessa forma foi  tão genial  e consistente, que  ele não    organizou os  elementos até então  conhecidos como  também  foi capaz de especular sobre a existência de elementos adicionais, dos quais apresen-tou  algumas  das  características  esperadas  (STRATHERN  2002;  TOLENTINO 1997). Esses  elementos adicionais foram identificados  posteriormente pelos quí-micos,  preenchendo os  seus respectivos  espaços na  tabela, que hoje conta com 112, incluindo os 92 elementos naturais (encontrados normalmente no ambiente) e os 20 artificiais (átomos obtidos em laboratório), reconhecidos pela União Inter-nacional de Química Pura e Aplicada (ver http://www.iupac.org/web/nt/2010- 02-20_112_Copernicium).

  Se  consultarmos  a coluna 1  (antiga 1A) da  tabela periódica,  encontraremos, por exemplo, lítio,  sódio  e potássio.  De acordo  com o  que Mendeleiev propôs, podemos  esperar semelhanças entre  esses elementos,  que,  de fato as  possuem: reagem bem com a água, possuem brilho e são acinzentados. Algo parecido acon-tece com o cloro, bromo e iodo, que estão próximos na coluna 17 (antiga 7A): to-dos eles são formadores de sais (para mais exemplos, ver ATKINS, 1996).   O exercício com botões, apresentado anteriormente, foi proposto por um pro-fessor de matemática, como estratégia para o desenvolvimento de uma proposta interdisciplinar, destinada ao Ensino Médio. As discussões, com a colaboração de colegas das áreas de química, filosofia e psicologia, sobre abordagens interdisci-plinares,  basearam-se no episodio  ‘O sonho  de Mendeleiev’,  da  série ‘Grandes questões: A ciência em foco’, apresentado pela TV Escola (http://portal.mec.gov. br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=5618).  Essa  estratégia  de ensino mostra-se valorosa por proporcionar um exercício teórico-prático investi-gativo, por meio do qual é possível buscar e encontrar regularidades de elemen-tos; fazer [previsões e] analogias, tecendo paralelo entre as praticas de classifica-ção conduzidas em diferentes áreas; retrospectivas históricas e abordagem inter-disciplinar.    4.10.2 Construindo uma chave de identificação.    4.10.2.1 Orientações gerais   Existem cerca de 1,7 [milhão]  de espécies conhecidas  e outros milhões  ainda devem vir a ser descritas. Descrever espécies novas é apenas uma das tarefas dos taxonomistas (ver item 6.8), que também se vêem às voltas com a necessidade de organizar as espécies conhecidas em grupos hierárquicos mais  inclusivos (gêne-ros, famílias etc.). Quando fazem esse trabalho de  organização, os taxonomistas costumam também preparar uma ‘chave de identificação’ – mecanismo que per-mite a qualquer interessado identificar exemplares daquele grupo. Por exemplo, uma chave de identificação das famílias de moscas deve permitir a qualquer um descobrir a família da(s) mosca(s) que tenha em mãos.   Na construção  das chaves, os  taxonomistas em  geral não estão preocupados em  distribuir os  grupos em ordem  filogenética. Diz-se  por isso que são chaves artificiais. Há mais de um tipo de chave. Aqui, veremos um exemplo de chave de acesso simples ou chave dicotômica (dividida em dois). Ao que parece, o pionei-ro no uso da chave dicotômica foi o botânico inglês Robert Morison (1620-1683).   As chaves dicotômicas usam uma série de pares de frases curtas ou instruções mutuamente excludentes; ao final de  cada frase, devemos fazer uma  opção. Ve-jamos um exemplo de chave dicotômica para identificação de quatro insetos (A, B, C, D). As instruções são numeradas em ordem crescente; à direita de cada frase encontram-se números  que indicam o  novo número para onde  devemos seguir ou o resultado.      1. Asas presentes .......................................................................... 2     1’. Asas ausentes .......................................................................... Inseto A     2. Asas anteriores e posteriores desiguais ............................... 3     2’. Asas anteriores e posteriores iguais .................................... Inseto B     3. Inseto grande (> 10 cm), com abdome volumoso ............... Inseto C

    3’. Inseto pequeno (< 10 cm), sem abdome volumoso ........... Inseto D    4.10.2.2 Concretizando a ideia  Materiais • 5 objetos ‘aparentados’,  mas desiguais  (folhas secas caídas  no  chão, por exemplo) • papel • lápis • borracha  Procedimentos 1. Observe cada objeto separadamente, anotando suas características mais peculi-ares e distintivas (i.e., que o tornam único frente a todos os demais). 2. Agrupe as características em ordem hierárquica. Por exemplo, folhas de mar-gem  inteira ou  serrilhada são  notadamente diferentes,  mas podem ser todas a-grupadas em uma  categoria hierárquica de  nível superior –  como a das  folhas simples ou compostas. Dentro de categorias mais amplas, como é o caso de ‘folha simples’, vamos criando subcategorias de níveis hierárquicos inferiores até che-gar em cada uma das folhas utilizadas. (Fazemos o mesmo com a outra categoria geral, a das  folhas compostas.) A  categoria das ‘folhas simples’ poderia abrigar, por exemplo, as subcategorias ‘glabras’ e ‘pilosas’; por sua vez, as folhas glabras poderiam ser subdivididas em ‘coriáceas’ e ‘membranosas’, e assim por diante. 3. Forme subgrupos de objetos que partilham características semelhantes. 4.  Comece  a  construção da  chave utilizando  as  características mais  gerais, que servem para caracterizar subgrupos. Repita o  procedimento, separando subgru-pos cada vez menores. 5. A melhor chave será aquela que permitir chegar mais rapidamente à identida-de correta dos objetos. Em outras palavras, a melhor chave é aquela que identifi-ca corretamente todos os objetos, usando para isso o menor número possível de níveis hierárquicos.

 

 


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